01 janeiro 2007

 

14 setembro 2006

 

Uma frase para Palocci
Jânio de Freitas
14/09/2006

Mas outro aspecto da freqüência de Palocci à casa revelada por Francenildo, à parte o aspecto das motivações pessoais, precisa dos esclarecimentos de um outro inquérito.

Em seu último ou penúltimo depoimento na Câmara, Rogério Buratti aproveitou um breve intervalo de diálogo, e nele encaixou esta frase: "O que interessa saber (ou "o importante é saber') para que eram as reuniões na casa". Foi desse mesmo jeito mais insinuado, voz baixa, que Buratti introduziu muitas indicações úteis aos questionadores. No caso, o teatrinho dos parlamentares logo se reanimou, e a frase de Buratti nada rendeu.

Nem por isso perdeu-se. E não só porque ficou gravada. Mas porque está viva como expectativa de esclarecimento com potencial equivalente, talvez, ao dos escândalos em que surgiu. Embora se limite a uma referência, no indiciamento de Palocci, o delegado Rodrigo Carneiro Gomes alerta o Ministério Público para indícios do crime de advocacia administrativa por Palocci. Práticas que costumam remeter a reuniões de negócios. E lembram Buratti.

Cavando uma trincheira
Demétrio Magnoli
14/09/2006

O horizonte de FHC não é outubro. São os próximos quatro anos.

Na hora da verdade, a oposição fracassou ao não dar nome às coisas. Sublimando o "crime de responsabilidade" de Lula, em parte para salvar Eduardo Azeredo, concedeu ao Planalto o passaporte para a difusão do discurso de que "todos os políticos são iguais". Essa flecha envenenada atravessou as instituições da República, que fenecem enquanto se agiganta o vulto do salvador da pátria.

Esse novo "partido de Lula", reverente aos interesses da alta finança, sustentado por políticas de clientela, composto por chefetes regionais e arrivistas, está sendo criado agora e só poderia nascer depois da morte do PT. No cenário dos sonhos do presidente-pai, que se vê ao espelho como a imagem da própria nação, o segundo mandato não será toldado por essa inconveniência da democracia que é a existência de oposição.

A marca que distingue o estadista do líder político comum não é uma propensão menor ao erro, mas a capacidade de elevar-se acima da conjuntura e expressar o interesse público de longo prazo. Os estadistas revelam-se quando se encontram fora do poder e, para mudar o rumo das coisas, aceitam a solidão política momentânea. A carta de 7 de setembro é um gesto de estadista.


O grande segredo alckmista
Vinicius Torres Freire
14/09/2006

Um programa governo jamais é só aquele folheto em tecnocratês aguado que os candidatos costumam distribuir, embora folhetos melhores contenham algumas respostas às questões centrais da administração.

O programa real aparece quando o candidato nomeia claramente uns três líderes político-intelectuais de sua campanha, quando não desconversa sobre a meia dúzia de problemas de fato críticos e quando se percebe a conexão da candidatura com forças sociais. Collor teve programa. FHC também. Lula teve -era em parte mentira e teve de refazê-lo em meio ao caos de 2002, mas teve. Se "Geraldo" tem um programa, ele não ousa dizer seu nome.

Rumoreja que o nome do programa alckmista seja Yoshiaki Nakano, grande economista e administrador público. Mas, como nem "Geraldo" o nomeou, resta o choque de indigestão provocado pela gororoba do teatrinho eleitoral da TV e dos folheto alckmistas, ainda incompletos.

13 setembro 2006

 

"Eu apóio Lula até porque não tenho alternativa, porque não gostaria de ver o PSDB voltar ao poder. Lula tem pelo menos uma tendência a querer atender, mais do que os tucanos, as demandas sociais, combater a desigualdade."

"É esse desejo do brasileiro de querer ser branco, de querer ser europeu ou norte-americano, e renegar os valores de sua própria formação cultural, que é tão rica. O fato de Lula ser um típico representante do povo brasileiro ofende a algumas elites aqui, nesses bairros de São Paulo [disse, segundo o jornal, indicando o bairro dos Jardins pela janela do hotel]"

Chico Buarque
13/09/2006

 

Radicalismo, por favor
Clóvis Rossi
13/09/2006

O artigo de Cardim de Carvalho chama a atenção por dois aspectos, pelo menos: primeiro, apresenta um gráfico da evolução da renda real per capita do brasileiro entre 1986 e 2005. É um eletrocardiograma plano, como se o coração econômico do Brasil mal batesse.

Vinte anos é tempo suficiente para que determinadas políticas tenham passado pelo teste definitivo, ideologias à parte: ou funcionam ou não funcionam.
No Brasil, o receituário hegemônico não funcionou, pelo menos do ponto de vista que mais interessa, o da renda da população.

12 setembro 2006

 


"Houve um tempo em que eu perdia as eleições porque o povo pobre não votava em mim,
e eu ficava com raiva."

"Qual é o orgulho que eu tenho? É que hoje vocês têm consciência
de que qualquer um de vocês está preparado para governar este país.
Cada um de vocês é uma célula do meu corpo,
cada um de vocês é uma gota do meu sangue.”

Lula
12/09/2006

 

Uma guerra paulista
Luís Nassif
12/09/2006

De seu lado, Serra tem um amplo leque de aliados em todos os partidos que cultivou ao longo de sua vida política. É um grupo de amigos que vai de César Maia, governador do Rio a Jarbas Vasconcellos, de Pernambuco; do deputado verde Eduardo Jorge, em São Paulo, a Márcio Fortes, no Rio; de industriais paulistas a sindicalistas; de intelectuais a funcionários públicos.

Seu leque alianças é muito mais amplo do que FHC, sua trajetória de vida muito mais coerente, seu sentimento de lealdade muito mais concreto. Só que Serra não consegue se desvencilhar de FHC. A relação entre os dois amigos um dia ainda será tema de alguma tese sobre confronto de personalidades na vida pública.

Eleito presidente, FHC tratou de manter o amigo perto o suficiente para que não explicitasse as críticas contra sua política econômica; longe o suficiente para que não participasse do processo de decisão. Agora, garante a Serra espaço em alguns setores que o viam com desconfiança. Mas a que preço? O de levar a desconfiança em setores que sempre admiraram sua coerência?

Enquanto não conseguir se libertar do fernandismo e passar a assumir o serrismo, Serra não conseguirá acompanhar os passos rápidos de Aécio, que está crescendo em cima de duas bandeiras objetivas: gestão e pacificação.

11 setembro 2006

 

"A carta é muito feliz quando fala da segurança pública de São Paulo, mas acho que carta é uma coisa que já não se usa atualmente no país. As missivas foram antes da internet. Mas se tem gente que gosta...”

"As pessoas na minha idade, na idade dele ainda escrevem cartas. Quando eu deixar o governo, escrevo uma carta também, já que sou velho".

Cláudio Lembo
11/09/2006


 

Aos amigos, todos os favores da lei
Waldemar Rossi
11/09/2006

O povo esteve feliz quando elegeu Lula presidente, afinal, era a esperança de que mudanças aconteceriam e que nova prática política seria aplicada. A decepção é generalizada. Porém, como o desconhecimento objetivo das questões políticas é também generalizado, parte significativa desse mesmo povo ainda acredita nele e muito provavelmente o reelegerá para um novo governo de quatro anos. Assim como aconteceu com FHC. Com o tucano, os outros quatro anos só vieram confirmar que sua eleição foi uma fraude política. Por tudo que Lula tem feito, dito e repetido, creio que sua eventual reeleição somente virá confirmar a regra nessa “democracia burguesa”: um verdadeiro estelionato eleitoral, em que se pode repetir o conceito e a prática expressos por um notável do tempo da ditadura militar: “Aos nossos amigos, todos os favores da lei; aos nossos inimigos, todos os rigores da lei”.


Lula e Bush
Luiz Carlos Bresser-Pereira
11/09/2006

O PSDB tem quadros competentes, mas está confuso diante do fracasso da modernidade com a qual se identificou, e à qual faltavam as idéias de nação e de retomada do desenvolvimento. Ainda há tempo, porém, para que suas lideranças e o candidato proponham uma alternativa real aos brasileiros. Não basta que rejeitem a corrupção e o populismo econômico do atual governo, precisam rejeitar toda a sua submissão à ortodoxia convencional, precisam mostrar aos eleitores a necessidade urgente de reorganizar a nação e de definir uma estratégia nacional de desenvolvimento.

Dessa forma talvez ainda seja possível evitar no Brasil o que ocorreu nos EUA. Lá, a falta de capacidade de apresentar uma verdadeira alternativa de governo custou ao Partido Democrata e ao povo americano mais quatro anos de Bush, aqui poderá indicar mais quatro anos de Lula.

10 setembro 2006

 

Os objetos
Clóvis Rossi
10/09/2006

Em 1989, logo após ser derrotado por Fernando Collor de Mello, Luiz Inácio Lula da Silva desabafou entre amigos: "Êta povinho b...".

Agora, prestes a conseguir sua segunda vitória consecutiva em pleitos presidenciais, Luiz Inácio Lula da Silva alça o "povinho", antes "b...", à condição de santo e sábio.

O problema não é o tal de povo ser santo, sábio ou "b...". O problema é ser eternamente objeto, e não agente de sua própria história. O problema é ser pobre demais, desarticulado e desorganizado demais, a ponto de precisar, eternamente, de alguém que se faça de "pai" dele, de campeão dos desvalidos, que, não obstante, continuam desvalidos depois que o "pai" deixa de fingir que é pai, vai para o ostracismo ou morre.

O Brasil só será um país mais ou menos decente na hora em que o tal de povo puder falar por sua própria voz, em vez de depender de intérpretes que ora o santificam, ora o desprezam, na dependência de suas fortunas eleitorais.

 

  • “O PT, ao fazer mea-culpa, está mostrando que o meu governo [1987-91] foi íntegro, sério. O PT, no passado, foi muito crítico e mordaz. Agora faz mea-culpa. Aprendeu com o Lula, que tem sido competente ao criticar o PT do passado. O PT que avançou foi o da linha moderada. Não pode ter um partido que de um lado levou cacetada com mensalão, com roubo, com corrupção e um partido honesto. Há o PT honesto e o PT corrupto. “

    Newton Cardoso (PMDB)
    candidato ao Senado por Minas com apoio do PT
    10/09/2006

 

A pedra de Alckmin não fez onda, afundou
Elio Gaspari
10/09/2006

Noutra construção, a opinião pública move-se como a água de um lago plácido onde se joga uma pedra, propagando as visões do centro para a periferia. O único efeito físico produzido pela pedra de Alckmin no lago de Pindorama foi o afogamento da miragem do candidato. Para o bem de todos, as ondas que vieram do centro, saíram da periferia também. As águas do lago são revoltas.

Nosso rei

Lula e sua comitiva cultivam uma estranha relação com o IBGE. Festejam os bons números e, diante dos maus, duvidam da metodologia do instituto. Foi assim com a pesquisa da obesidade, com o PIB e com o último índice do desemprego.


O IBGE deveria imprimir uns santinhos com o retrato do rei Faiçal, da Arábia Saudita (1903-1975), para distribuição em Brasília. Em 1969 o grande monarca patrocinou o primeiro censo demográfico de seu deserto. Quando vieram os números, achou pouco e mandou dobrá-los. Assim, a Arábia Saudita ficou com oito milhões de habitantes.

09 setembro 2006

 

  • “O Lula usurpou a Bolsa-Escola, usurpou a política econômica do Fernando Henrique e usurpou a ética do [Fernando] Collor [de Mello]. Aliás, talvez por isso mesmo, o Collor vai votar no Lula.”

    Cristovam Buarque
    candidato do PDT à Presidência da República
    09/09/2006

 

Carta aberta a Fernando Henrique
Roberto Jefferson
09/09/2006

Mas não foi só você que se omitiu, Fernando Henrique. Lula também. E se Lula se omitiu diante dos erros dos ministros dele, o PSDB se omitiu frente aos erros do Presidente da República. Mais: da mesma forma que livraram Lula e Eduardo Azeredo, calaram-se frente aos fundos de pensão, pois ambos os manipularam.

Na época, em conversa com o presidente do PFL, Jorge Bonhausen, em sua casa, ele me confidenciou que não iriam tirar Lula da Presidência porque o vice-presidente, José Alencar, um capitão de indústria, de viés nacionalista, assumiria o comando e baixaria os juros, tornando-se imbatível na eleição. Disse-me Bornhausen: "Essa é a mesma posição de FHC".

Motivos para indignação e tomada de posição não faltaram à oposição. Ministros e homens de confiança do Presidente da República caíam como frutas maduras, pressionados pela força da verdade - nua e crua. Quem não se lembra do publicitário Duda Mendonça declarando à CPI que recebera dinheiro de caixa dois no exterior como pagamento pelas campanhas do PT? Deputados petistas choravam em plenário como coro de carpideiras, dando a senha para o grave momento que o Brasil vivia.

Enquanto isso, o mercado ia muito bem, obrigado. Nada o abalava. Se a economia está bem, está tudo numa boa. Na época, pontificava, todo garboso, o queridinho da mídia, o ex-ministro Antônio Palocci, maestro e arranjador da política monetária mais restritiva e extorsiva dos últimos tempos. E tome tucano a elogiar a administração do então todo-poderoso fraudador de senhas bancárias... Agora, os tucanos querem reclamar de quê?

Para complicar, com o discurso presidencial de que todo mundo é igual, pois faz caixa dois, todos foram para a vala comum. Agora é tarde.

Quando fui cassado, uma deputada amiga me confidenciou o que ouvira do tucano Alberto Goldman (SP): "Vamos cassar o Roberto Jefferson e o Zé Dirceu. O primeiro não pode escapar; caso contrário, vai ser um nome muito forte à Presidência...".

O Brasil ainda se ressente de uma terceira via, de um candidato fora do eixo tucano-petista que concorra com estrutura, ou seja, que seja viável eleitoralmente. E com uma nova proposta, que nos permita ver além do que nos reserva a elite financeira.

Já falam no nome de Aécio Neves, em 2010, mas não para concorrer pelo PSDB - seria pelo PMDB, pelas mãos (de quem?) de Lula.

Em que pese o atraso, devemos todos concordar que Fernando Henrique disse o que precisava ser dito. Tem razão ele, há que se espernear; caso contrário, o PSDB pode acabar no colo do PMDB. Pior, sob as bênçãos de Lula.


O novo modelo
Luis Nassif
09/09/2006

A discussão econômica continua presa a dois paradigmas superados: o modelo desenvolvimentista que se esgotou nos anos 80; e o chamado modelo neoliberal, de políticas públicas passivas, que se iniciou em 1994.

Já existe massa crítica de diagnósticos para que se dê um salto nessa dicotomia. Conto com a contribuição de vocês para sugerir temas ou interpretações.

Indústria nacional
Desenvolvimentismo: Protecionismo
Neoliberalismo: Abertura e apreciação cambial
Novo Modelo: Criação de um ambiente competitivo, com câmbio favorável.

Estado Nacional
Desenvolvimentismo: Estatização ampla
Neoliberalismo: Estado mínimo
Novo Modelo: Estado Gerencial

Responsabilidade Fiscal
Desenvolvimentismo: Sem regras
Neoliberalismo: Metas quantitativas de déficit
Novo Modelo: Acompanhamento qualitativo das despesas

Políticas Sociais
Desenvolvimentismo: Paternalistas
Neoliberalismo: Impessoais, mas sem escala
Novo Modelo: Com escala e com indicadores

Capital externo
Desenvolvimentismo: Restrições
Neoliberalismo: Abertura incondicional
Novo Modelo: Ênfase no capital produtivo e na transferência de tecnologia.

 

“Fizemos reuniões de intelectuais com o Paulo Vanuchi, fizemos uma primeira reunião lá no Banco do Brasil, com o Lula, Palocci, todos. E houve uma longuíssima arenga do Palocci, do Zé Dirceu etc., explicando porque seria daquele jeito. Um grupo, do qual faziam parte o Chico de Oliveira e o Fabio Konder Comparato, disse então “tchau e bênção”. Outro grupo se mortificou, comeu as unhas e foi para casa. E alguns, como eu, ficaram lá para ser saco de pancadas do país. Para poder justificar ao país o injustificável, viramos saco de pancadas. Mas à época, pensava o seguinte: é por um desejo infantilmente esquerdista que não quero que seja assim. Preciso ser racional, realista, e entender os limites que a realidade impõe ao nosso desejo...”

“Sim, era uma coisinha depois da outra. Tudo o que eles explicavam tinha uma certa lógica, um caminho. Houve momentos em que havia até cronograma. Coisas como, no mês tal será assim, no outro assado e nós ficamos completamente convencidos de que o cronograma tinha sentido (risos). “

Marilena Chauí

09/09/2006

07 setembro 2006

 

  • “[meus adversários] estão tão nervosos que chegam até a babar de raiva".

    Lula
    07/09/2006

 

50 perguntas para Lula
Folha de São Paulo
07/09/2006

A Folha relaciona abaixo perguntas dirigidas ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. São questões que eventualmente poderiam ser respondidas pelo candidato à reeleição na sabatina promovida pelo jornal que estava marcada para a tarde de ontem. Convidado há mais de dois meses, o presidente se recusou a participar do ciclo de sabatinas com os principais candidatos à Presidência, decisão que foi comunicada oficialmente ao jornal apenas no início da noite de anteontem. As razões da ausência não foram esclarecidas.

1. Por que o sr. se recusou a comparecer a esta sabatina? E por que, desde que assumiu a Presidência, se recusa a a conceder uma entrevista para a Folha?


2. Como o sr. justifica o fato de ter adotado uma política econômica mais conservadora que a de seu antecessor?

7. Por que o espetáculo do crescimento prometido pelo sr. não aconteceu?

9. O sr. promoverá mudanças na equipe econômica, especialmente no Banco Central?

13. O sr. defende a adoção de nova idade mínima para aposentadoria?

14. O sr. planeja algum tipo de mudança na legislação trabalhista durante seu segundo mandato? Quais mudanças, por exemplo?

16. O sr. não vê constrangimento no fato de um de seus filhos, sócio da Gamecorp, ter se associado à Telemar, empresa de grande porte que depende de decisões do governo?

23. O sr. continua acreditando que existem 300 picaretas no Congresso, como disse certa vez?

26. Como o sr. analisa o apoio que recebe agora do ex-presidente Collor, candidato ao Senado por Alagoas?

34. Quais ministros o sr. destacaria pelo bom desempenho durante seu mandato?

36. Qual o último livro que o sr. leu? Poderia comentá-lo?

39. O sr. acredita que as pessoas acreditem que o sr. não sabia do mensalão?

40. Ex-dirigentes petistas já confidenciaram, na intimidade, que se sentiram abandonados, inclusive pelo sr. Depois da crise, o sr. prestou algum tipo de solidariedade a Delúbio Soares, Sílvio Pereira e José Genoíno? Eles são seus amigos? O sr. os perdoou pelos erros cometidos? Eles erraram?

41. O sr. se preocupou em saber a origem do dinheiro que seu amigo e presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, diz ter usado para pagamento de suposto empréstimo do PT ao sr.?

44. O sr. recebeu alguma ligação de José Dirceu no dia 18 de junho de 2002 para vir a Brasília e resolver a aliança com o PL? O sr. confirma ter feito o comentário "está liqüidado o assunto" após o encontro reservado entre Dirceu, Delúbio e Valdemar Costa Neto? O sr. sabia que o PT iria pagar R$ 10 milhões para selar a aliança com o PL?

-- Em entrevista à revista "Época", no ano passado, o então presidente do PL, ex-deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), narrou um encontro ocorrido na campanha de 2002 no apartamento do deputado Paulo Rocha (PT-PA), em Brasília, no dia 19 de junho, durante o qual o PT decidiu pagar cerca de R$ 10 milhões para o PL para gastos na campanha eleitoral daquele ano. Esses recursos selaram a aliança entre o PT e o PL na disputa pela Presidência. Segundo o deputado Valdemar Costa Neto, nos dias que antecederam essa reunião, houve vários encontros entre ele e José Dirceu. Mas o acordo demorava a sair. Então no dia 18 de junho de 2002, segundo Costa Neto, Dirceu telefonou para o sr. para ajudá-lo a chegar a um consenso. Dirceu teria dito "que o Lula viria no dia seguinte a Brasília resolver o assunto". Nesse encontro do dia 19 na casa de Paulo Rocha, segundo o deputado, estavam reunidos o sr., então candidato à Presidência, seu candidato a vice, José Alencar, o futuro ministro da Casa Civil, José Dirceu, e o tesoureiro da sua campanha, Delúbio Soares. A negociação sobre números teria ocorrido numa sala ao lado de onde estava o sr. Disse Costa Neto: "O Lula estava na sala ao lado. Ele sabia que estávamos negociando números".O acordo foi fechado. Quando indagado pela revista sobre a reação de Lula, o deputado contou: "Quando saí, ele [Lula] me falou: "Então está liqüidado o assunto". O Lula foi lá para autorizar a operação. E não vejo nada demais. O que ninguém esperava é que desse essa lambança".

45. O sr. teve conhecimento das negociações entre Duda Mendonça e o PT para que o acerto dos serviços prestados na campanha de 2002 fosse feito por meio de depósitos ilegais em uma empresa offshore das Bahamas? Duda Mendonça, com quem o sr. teve muito contato antes e depois das eleições, nunca tocou no assunto?

-- De acordo o marqueteiro Duda Mendonça, o PT ficou lhe devendo cerca de R$ 15 milhões por serviços prestados nas campanhas eleitorais de 2002 e por serviços prestados ao partido em 2003 (ele chamou de "pacote" que envolveria cinco campanhas). Segundo o depoimento de Duda à CPI, houve uma longa negociação com o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para receber os valores. O PT protelava o pagamento. Até que se definiu pelos depósitos ilegais, por meio de caixa dois, na empresa offshore das Bahamas.

46. O sr. declarou, ao "Jornal Nacional", que chegou a debater com seu amigo e presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, a necessidade ou não de pagar uma dívida de R$ 29 mil cobrada pelo PT por gastos que foram contabilizados como "empréstimos" no balanço petista. Não foi o que disse Okamotto à CPI - segundo ele, o assunto jamais foi discutido com o sr. A que o sr. atribui essa versão apresentada por Okamotto?

47. O sr. confirma ter conversado sobre a existência de um esquema de cooptação de parlamentares o então governador Marconi Perillo no dia 5 de maio de 2004? Em caso positivo, o que o sr. disse a respeito? O sr. tomou alguma providência a respeito do assunto, tal qual disse que iria fazer, conforme narrado por Perillo?

-- O ex-governador de Goiás Marconi Perillo (PSDB) declarou por escrito à Câmara e, depois, em depoimento à Polícia Federal, que no dia 5 de maio de 2004 alertou-o sobre a existência de um esquema de cooptação de parlamentares por ofertas de dinheiro. Disse o governador: "Relatei ao senhor presidente da República que ouvira rumores sobre a existência de mesada a parlamentares em conversas informais em Brasília, porém sem provas concretas. Repeti o inteiro teor das informações que havia recebido. O senhor presidente da República disse que não tinha conhecimento e que ia tomar as providências que o assunto requeria. Não sei quais foram as providências tomadas". Recentemente, Perillo foi além e disse que o sr. teria dito: "Tome conta de seus deputados, que eu tomo dos meus".

48. O sr. em algum momento da crise se sentiu deprimido? Teve vontade de largar tudo?

49. O sr. acha que é possível fazer política no Brasil sem sujar as mãos?

50. Como o sr. define ética? E corrupção?

05 setembro 2006

 


  • "Eu não durmo com homem rico e ordinário.
    Vomito em cima."

    Heloísa Helena
    05/09/2006
    (ao negar ter tido um relacionamento
    com o ex-senador Luiz Estevão)

04 setembro 2006

 

  • “Portanto, não é o fim da política que estamos presenciando, mas o seu recomeço.”

    Tarso Genro
    04/09/2006

 

Lulinha, paz e armar
Jânio de Freitas
03/09/2006

Mas o crescimento no frágil primeiro semestre foi de 1,3%, quase três vezes os 0,5% do segundo.Esse não-crescimento equivale, sim, à continuidade do crime que a política econômica vem há mais de dez anos cometendo contra o presente e contra as gerações futuras.

Mas as gerações sucessivas que chegam à idade do trabalho, e portanto dependem do crescimento econômico, não inspiram preocupação. Basta dizer, a respeito, que a culpa é da Copa do Mundo. E silenciar que o "crescimento" do Brasil é o pior dentre todos os países emergentes. E o que ostenta os juros mais antieconômicos e anti-sociais do mundo, com seus 9,4% já descontada a inflação, tão perto do dobro do segundo colocado, a Turquia dos 5,1%.

Se eleito, Lula deveria erguer um monumento de gratidão a seu principal adversário, outro à oposição e um terceiro aos meios de comunicação, por deixá-lo em tamanha paz.

 

Lulinha, paz e armar
Jânio de Freitas
04/09/2006

Mas o crescimento no frágil primeiro semestre foi de 1,3%, quase três vezes os 0,5% do segundo.Esse não-crescimento equivale, sim, à continuidade do crime que a política econômica vem há mais de dez anos cometendo contra o presente e contra as gerações futuras.

Mas as gerações sucessivas que chegam à idade do trabalho, e portanto dependem do crescimento econômico, não inspiram preocupação. Basta dizer, a respeito, que a culpa é da Copa do Mundo. E silenciar que o "crescimento" do Brasil é o pior dentre todos os países emergentes. E o que ostenta os juros mais antieconômicos e anti-sociais do mundo, com seus 9,4% já descontada a inflação, tão perto do dobro do segundo colocado, a Turquia dos 5,1%.

Se eleito, Lula deveria erguer um monumento de gratidão a seu principal adversário, outro à oposição e um terceiro aos meios de comunicação, por deixá-lo em tamanha paz.

 

“O FMI não pressiona países que não precisam de empréstimos do Fundo. Eles não nos incomodam, nem incomodam a China. Eles dizem - déficit público de 8% é muito alto. Nós dizemos, sim, nós sabemos, gostaríamos de reduzir. E é isso. Se nós tivéssemos que recorrer a empréstimos do FMI, seria diferente - aí, sim, eles seriam durões.”

“As agências nos classificavam como investimento de risco (abaixo do grau de investimento). Agora estamos no primeiro nível de classificação que é grau de investimento. E isso veio com o crescimento e o aumento dos investimentos. As agências demoraram a nos dar upgrade porque se focam muito em déficit fiscal, em vez de analisar o cenário completo.”

Montek Singh Ahluwalia
Ministro do Planejamento da Índia
04/09/2006

 

Lula quer ‘tolerância zero’ com ataques tucanos
Josias de Souza
03/09/2006

Em público, ele é o ‘Lulinha paz e amor’. Em privado, é um candidato cada vez mais pintado para a guerra. “Não podemos assistir calados a esse festival de besteiras que estão dizendo sobre nós”, afirmou Lula a um auxiliar. Mostra-se especialmente irritado com o antecessor Fernando Henrique Cardoso. Quer que seus aliados, em especial o PT, adotem o que chama de tática da “tolerância zero” com os ataques.

Entre quatro paredes, Lula refere-se a FHC de maneira pouquíssimo lisonjeira. Diz que o tucano não está “batendo bem”. Exagera: “Deveria ser internado”. Acha que o “problema” de FHC é “a inveja”. Não suportaria o fato de ter sido “superado” no governo por um “operário”. Em “todos os quesitos”.


O GRANDE PADRINHO!
Cesar Maia
04/09/2006

Em artigo magistral, no Estado de SP de domingo, FHC disseca a natureza do governo Lula. O título do artigo -República da Malandragem- já antecipa a lógica da argumentação de FHC. A parte mais forte do artigo, é a última frase onde FHC chama Lula de mafioso ou Grande Padrinho, responsabilizando-o portanto, por toda a máquina de corrupção montada especialmente nos anos de 2003 e 2004. Nada tão oportuno!

Mas lembro-me que a meados de 2005, com todos os documentos e provas na mão, se discutia a responsabilização do presidente, de Lula. Um dirigente do PFL trouxe de SP, uma linha de atuação que teria sido proposta, em reunião, por FHC para aquela conjuntura. FHC teria dito que uma ação contundente da oposição em direção ao impedimento de Lula, naquele momento, seria repetir o erro do PT quanto a Collor, radicalizando pela sua cassação, e por isso pagou o preço, em 1990 (eleição parlamentar) e 1994 (presidencial e parlamentar), num abraço de afogado. E que a tática correta seria ir retirando ar, e apertando o cerco, de forma a se chegar no final do governo em 2006, com Lula em farrapos, mas como presidente.
Bem, hoje... melhor assim, pois através de sua maior liderança, expressa aquilo que o PFL sempre disse a partir dos fatos.

03 setembro 2006

 

Primos entre si
Sergio Costa
03/09/2006

Mesmo depois de anos no ringue, FHC e Lula parecem nutrir algum tipo de inveja um do outro. Deve haver explicação para esse jogo de atração e rejeição cíclico e mútuo. Não foi à toa que os dois ficaram meio enrolados na passagem da faixa presidencial em 2003. Um desajeito só.

Por 12 anos, a dupla ditou as regras e o ritmo das coisas por aqui. Afinal, se o país está como está, são eles os maiores responsáveis. Mas por uma estranha compulsão preferiram, de alguma forma, sair no tapa outra vez. Os tucanos ressuscitam fantasmas recentes para assombrar os petistas -Delúbio, Silvinho Land Rover, Dirceu, Valério, dólares na cueca, o mensalão. Do lado de Lula, espana-se a poeira de esqueletos da era FHC, marcada por privatizações chamadas de privatarias. Mais do que seus PIBs, vão comparar os estragos.

Um vai tentar mostrar que o outro vendeu o país barato, quase de graça, entregando anéis e dedos. O outro, que os amigos do um assaltaram a máquina do Estado, lambuzando-se no poder como novos-ricos. Lembram dois primos de um antigo programa humorístico do rádio e da TV. Só que ninguém ri.


O candidato Geraldo Lott Gomes Távora
Elio Gaspari
03/06/2006

O que falta ao doutor Geraldo Alckmin em sua campanha não é estratégia de marquetagem, mas idéias de candidato. Quem conseguir enumerar três idéias do tucano capazes de justificar o voto na sua ilustre pessoa ganha um pretinho da Daslu. Para quem não consegue lembrar nada, uma boa cola: "Vou trabalhar para acabar com o vestibular". Não vale dizer que votar nele é votar contra Lula, pois esse pode ser um ótimo motivo, mas não forma uma idéia.

Sua plataforma é um bandejão de platitudes. Coisas assim: "Eu vou aprofundar a inserção internacional do Brasil. E fazer uma defesa intransigente do mercado brasileiro". Ou ainda: "Tem de avançar, não pode ir para trás".

O tucanato suicidou-se em junho de 2005

É hipócrita e arrogante a pretensão da cúpula tucana de se apresentar ao eleitorado como guardiã da moralidade. Os tucanos danaram-se na primeira metade de junho do ano passado, quando fizeram sua opção preferencial pela hipocrisia elitista. Diante da notícia de que em 1998 a campanha de seu presidente, o senador Eduardo Azeredo, fizera com o publicitário Marcos Valério o mesmo tipo de arranjo que ele viria a fazer em 2002 com o PT, o tucanato decidiu impor sua ética à choldra. Durante quatro meses, mantiveram Azeredo na presidência do partido. Fritaram-no quando viram o tamanho da besteira cometida, mas era tarde.

O PSDB não é uma tribo de larápios. Apenas decidiu não se tornar um partido que combate os malfeitores. Assim como os petistas fazem circular a lorota segundo a qual suas bandalheiras destinam-se a ajudar os pobres, os tucanos querem fazer crer que as deles, por velhas, fazem parte do patrimônio histórico nacional.


O programa econômico de Alckmin
Luís Nassif
03/09/2006
Nos próximos dias serão anunciados os princípios gerais do programa econômico de Geraldo Alckmin. O cerne do programa , sai da cabeça do economista Yoshiaki Nakano. Um esboço foi antecipado na coluna de Nakano, na semana passada no jornal “O Valor”.

A partir daí, as idéias se desdobram em cinco propostas:

1) redução do tamanho relativo do governo, para abrir espaço para o setor privado poder crescer de acordo com seu potencial;
2) nova estratégia de integração à economia global, priorizando a ampliação dos fluxos de comércio, colocando em ação novas políticas cambial, comercial e de negociações mais ativa;
3) programa do governo de investimentos públicos em infra-estrutura;
4) reforma da gestão pública para melhorar a qualidade dos serviços públicos, particularmente educação, saúde e segurança, e reduzir os custos burocráticos que pesam sobre o setor privado;
5) flexibilização da legislação trabalhista.

02 setembro 2006

 

  • "Porque eu vejo o noticiário, lamento profundamente que uma empresa como a Volkswagen esteja dispensando trabalhadores, e ela está dispensando porque teve um projeto que não deu certo. Em compensação, a Fiat vem aqui e, além de anunciar dois carros que ela está estudando profundamente -um que vai entrar no mercado e outro que está em pesquisa-, me dá a alegria de dizer que está contratando funcionários, numa demonstração de que o problema não é do setor automobilístico, é da Volkswagen."

    Lula
    02/09/2006

 

Segundo Turno
Roberto Jefferson
02/09/2006

Os institutos de pesquisa começam a acertar os números reais da preferência de Lula e Alckmin junto ao eleitorado brasileiro.

Pego uma aposta: nos próximos 15 dias Geraldo vai a 32 - 35% e Lula cai para 40%, proporcionando assim o segundo turno com os votos de Heloísa Helena. Aposto que os institutos vão fugir de uma nova desmoralização, como quando sustentaram, em equívoco semelhante, que venceria o desarmamento no plebiscito.
Vai dar segundo turno. Acompanhem e confiram.

01 setembro 2006

 

  • "O Lula é nordestino, conhece nossas raízes e nossas carências e tem agido rápido no atendimento aos pleitos do Nordeste. O outro candidato, eu falo do [Geraldo] Alckmin, o que posso dizer é que está muito distante mesmo da região. Está na elite, se colocar o Alckmin solto por aí no Nordeste você vai pensar que é um ET".

    Collor
    31/08/2006

31 agosto 2006

 


  • "Não sei se conseguiremos fazer tudo o que precisa ser feito. Possivelmente, tenho dúvidas. Não será por falta de esforço, de compromisso e lealdade aos princípios que nos fizeram chegar à Presidência que não vamos cumprir. Se não cumprirmos é por que haverá fatores extraterrestres."

    Lula
    31/08/2006

 

Um encontro com o presidente Lula
Paulo Nogueira Batista Júnior
31/08/2006

Na quinta-feira passada, o ministro Guido Mantega me telefonou transmitindo convite do presidente Lula para encontro com um grupo de intelectuais. Agradeci, mas perguntei: "A presenç
a caracteriza apoio ao candidato?". "Não", disse ele, "é apenas uma troca de idéias."

Procurei ser delicado, mas não pude deixar de destoar um pouco.

"Mas, no campo econômico, o governo foi uma decepção. As políticas foram exageradamente restritivas e, como resultado, o crescimento foi medíocre. O Banco Central tem sido especialmente rígido. Poucos sabem, mas a nossa inflação é hoje ligeiramente inferior à dos EUA! É também inferior à média da inflação nos mercados emergentes. Não obstante, a nossa taxa de juro básica continua em torno de 10% reais, quando a média nos principais países desenvolvidos e emergentes vem oscilando entre 1% e 1,5%."

Como o presidente parecia ouvir atentamente, resolvi ir um pouco mais longe: "Permita-me dizer que já existe no seu governo uma espécie de modelo do que pode ser feito na área econômica. O senhor nomeou para a cúpula do Itamaraty duas pessoas do ramo, Celso Amorim e Samuel Pinheiro Guimarães -isso o senhor tem agora na Fazenda com Guido Mantega. Sob a orientação da Presidência, e em articulação com seu assessor Marco Aurélio Garcia, o Itamaraty foi sendo renovado aos poucos com o afastamento gradativo de pessoas ligadas ao "antigo regime" dos principais cargos em Brasília e da maioria das embaixadas importantes. Com isso, criaram-se as condições para executar uma nova política externa. O mesmo precisa ser feito na área econômica, que continuou excessivamente sujeita a influências estrangeiras e do sistema financeiro".

Terminei com uma pequena provocação: "Não podemos continuar como estamos: entra governo, sai governo, e a diretoria do BC sempre dominada por pessoas do sistema financeiro ou ansiosas para desenvolver uma carreira brilhante nesse sistema. Espero que, num eventual segundo mandato seu, o Brasil entre em campo no BC e no resto da área econômica com menos jogadores escalados pelo lado adversário".


Da boca para fora
Jânio de Freitas
31/08/2006

Na exaltada reação às referências do "programa" de Lula ao seu governo, Fernando Henrique fez a observação correta de que "não adianta dizer que o sistema é culpado. O sistema tem muitos erros, mas moral é conduta, é pessoal, é individual. Quem falha tem que ser punido porque falhou." Poderia desenvolver a observação, com muita utilidade. Preferiu outra via: "Quando há desvio ou alguma coisa equivocada, ele [Lula, claro] passa a mão na cabeça e diz que o companheiro errou. Não. O senhor errou, porque não puniu o companheiro. Isso precisa ser dito e cobrado".

Como precisa ser dito e cobrado, também, que isso mesmo foi feito no governo Fernando Henrique. Flagrado e gravado ao fazer tráfico de influência em benefício de empresa estrangeira, dentro mesmo do Planalto, o embaixador Júlio Cesar Santos recebeu na cabeça a mão protetora do presidente e, ainda mais, o presente de uma embaixada em Roma. Os que avançaram no "limite da responsabilidade", para manipular privatizações, e tantos outros, saíram incólumes do risco de CPIs, por ação direta da Presidência.

A sinceridade melhorou um pouco, mas em mão única.


Cadê a política?
Roberto Jefferson
31/08/2006

É a opinião de muitos que esta é a eleição presidencial mais chata e vazia vista nas últimas duas décadas.


Numa eleição onde as campanhas estão, por assim dizer, uniformes, o que parece ter sumido é a própria política. Será que alguém consegue encontrá-la neste próximo mês?


Exportando empregos - parte III
Cristiane Brasil
31/08/2006


Provavelmente, nos próximos anos, a Volkswagem fará a transferência de suas fábricas do Brasil para a China. No fundo, o Brasil está sofrendo um processo retroativo. Estamos voltando no tempo e, com a manutenção dessa política externa, em breve estaremos somente exportando commodities. Dessa vez ao invés de sermos uma colônia dos EUA, como no passado recente, passaremos a ser um mercado colônia dos chineses, que levarão nossa matéria prima e nos devolverão produtos com valor agregado. Simplesmente trocamos de colonizadores.

30 agosto 2006

 

  • “Diria que a reunião dos intelectuais com Lula foi uma espécie de encontro mediúnico. Quem falou foi o Lula, pela boca dos intelectuais. Os presentes racionalizaram o discurso do presidente. Aí eu me lembro de Sartre, para diferenciar o filósofo do ideólogo. O filósofo é aquele que critica, que analisa, que se informa, que coloca matizes, que procura a diferença. O ideólogo é aquele que repete as palavras de ordem. Tem a função de tentar racionalizar o que é irracional.”

  • “Quando você pega o José Genoino, o Delúbio Soares, o José Dirceu e o Antonio Palocci é como se eles estivessem pagando com o próprio sangue a sobrevivência do Lula.”


    Roberto Romano
    30/08/2006

 

O legado do PSDB
Fernando Rodrigues
30/08/2006

O PSDB não é um partido. Já foi uma tese acadêmica e hoje se resume a alguns interesses eleitorais pessoais -os mais conhecidos sendo o do paulista José Serra e o do mineiro Aécio Neves.

Em certa medida, esse estado de desagregação do PSDB é um espelho do restante dos outros partidos políticos brasileiros. Em 2010, assistiremos a uma luta sangrenta no PT pelo espólio de Lula. Nas outras siglas, o cenário é de desolação.

Tudo para dizer que o PSDB está prestes a ser derrotado na eleição presidencial, mas, pelo menos, contribui ficando como um "caso para estudo" sobre como não deve ser constituído um partido político.

29 agosto 2006

 

  • "Me dói ver agora o próprio presidente da República dizer: 'não, todos são iguais'. Iguais não. Eu não sou igual a ele! Eu não sou igual a ele! Eu não sou igual a ele!"
  • "Eu o acompanhei nas greves quando havia ditadura. Eu queria ter sido igual a ele naquele tempo. Mas ele mudou. Ele hoje prega e faz tudo que combateu.”


    FHC
    29/08/2006

 

Mapa astral
28/08/2006
Sérgio Costa

Recém-rebaixado à categoria de planeta-anão no Sistema Solar, Plutão é regente do signo de Lula: Escorpião. A desqualificação, segundo especialistas, atingiu o astro quando transitava no meio do céu do presidente, a influenciar sua vida profissional.

Escrito nos astros ou coincidência, o rebaixamento de Plutão casou com uma mudança de ânimos na campanha. Lula, até então com atitude olímpica na liderança, resolveu dar uma espanada geral. Ele, que só tinha batido em Serra - ato falho?-, no fim da semana partiu para cima do real adversário Alckmin com críticas à educação em São Paulo e ainda saiu em defesa do aliado Marcelo Crivella no Rio ao atirar em Cabral Filho, ligando-o ao casal Garotinho.

Se a transformação do astro em planeta-anão influenciou a vida profissional de Lula, que andou declarando até o sonho de ser economista como antídoto ao elogio de ignorância a ele atribuída, atingiu também a de Alckmin. Os dois passaram a falar mais grosso e mais alto ao mesmo tempo. Por incrível que pareça, o ex-governador também é de Escorpião.


Descoberta, afinal, a utilidade dos intelectuais
Josias de Souza
29/08/2006

Descobriu-se, finalmente, para que servem os intelectuais: eles são as lavadeiras da República, os faxineiros da realpolitik. Dedicam-se a limpar a biografia de governantes que, no dizer casual-escatológico de Paulo Betti, viram-se forçados a “botar a mão na merda”.

O fato é que, a despeito do cocô, das más companhias e do jogo bruto, os intelectuais limparam toda réstia de nódoa que ainda pudesse haver no prontuário da era Lula. Lavaram, engomaram e passaram a ferro os escândalos. De quebra, emitiram um certificado de garantia à ética petista válido por pelo menos mais quatro anos. Em manifesto no qual se penduraram 213 assinaturas, a intelectualidade reclama apoio a Lula.

Mudam os faxineiros, mas o sabão é sempre o mesmo. Nos dias que correm, recorre-se à beira do tanque metafórico da intelectualidade ao mesmo tipo de sabão usado há bem pouco, por exemplo, por José Arthur Giannotti. Também ele justificou, sob espuma retórica, as incursões do amigo FHC pelo universo da amoralidade.

28 agosto 2006

 

Classe média, a grande ausente do debate eleitoral
Roberto Jefferson
28/08/2006

Há uns 15 dias, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso cobrou "dramatização" nas campanhas eleitorais, ou seja, está faltando emoção. O que jaz no subconsciente de FHC, contudo, está explicitado nos programas eleitorais: Alckmin é o Lula sem barba; e Lula, o Alckmin barbudo. O PT e o PSDB são iguais, irmãos siameses. Têm os mesmos financiadores, a mesma política compensatória do FMI e o mesmo discurso socialista com práticas capitalistas.

Como acender ideologicamente o debate se tudo é igual, se não se dispõe de antagonismos? Como empolgar a sociedade se todo mundo já sabe que o maestro dessa orquestra política é o mercado financeiro?

Não há nada de novo sob o sol. A redemocratização não semeou esperança, porque todos se curvaram ante o poder dos banqueiros.

Já a classe média encolheu pela metade nos últimos 20 anos. Falta massa crítica porque a classe média se afastou do debate eleitoral, porque está deixando de existir. O Brasil corre o risco de se transformar em uma China - lá não tem classe média, só os burocratas do partido e os novos empresários.

É esta a falta de drama. O PSDB não sai da periferia do PT: é o mesmo discurso, a mesma prática; o discurso social com o acumpliciamento do capitalismo selvagem.
Alckmin está começando a despertar para esse discurso. Já que o PSDB o abandonou, ele que faça o discurso dramático à classe média que foi rebaixada. Que fale em ascensão social, propriedade privada. Falta o grande representante do povo, que é a classe média, até agora alijada. Aqui está o vácuo. Se Alckmin fizer esse discurso, põe o Lula no segundo turno.

27 agosto 2006

 

  • "Não dá para fazer política sem sujar as mãos",

    Paulo Betti
  • "Não estou preocupado com a ética do PT.
    O partido fez o jogo que tem que fazer para governar

    Wagner Tiso,

    27/08/2008
    (em reunião de artistas com Lula)

26 agosto 2006

 

Heloísa afirma ser a única capaz de derrotar Lula
26/08/2006

Nessa conta, a candidata também incluiu os movimentos sociais. Para ela, foi uma "aberração" a forma como eles foram utilizados na defesa do governo Lula. "Imagina se isso acontecesse -mensalão, sanguessuga- no governo passado. Eu não sairia das ruas. Todo dia faria mobilização: fora isso, fora aquilo", afirmou ela.

E completou: "Toda a estrutura do movimento social foi paralisada. Ela foi incorporada ao aparelho de Estado, à máquina pública. Houve claramente uma atenuação das tensões que pudessem resistir."

 

Para FHC, falta 'energia' a Alckmin para deter Lula
Josias de Souza
26/08/2006

O blog ouviu duas pessoas que conversaram com FHC nas últimas 72 horas. Descobriu que o ex-presidente descrê da capacidade de Alckmin de prevalecer sobre Lula. Todos os raciocínios desfiados por ele conduzem à impressão de que já jogou a toalha. Afirma, por exemplo, que falta “energia” a Alckmin para estabelecer o contraditório com Lula.

Para complicar, FHC avalia que sobra no adversário o vigor que escasseia no candidato de seu partido. Sem o “necessário contraponto”, Lula estaria conseguindo difundir livremente a idéia de que todos os partidos e todos os políticos “são iguais” na perversão. A tese, acredita FHC, já foi passivamente comprada pelo eleitorado. Daí a consolidação do favoritismo de Lula, a despeito de todos os “escândalos” que marcaram a gestão petista.

O que falta à análise de FHC é uma boa dose de autocrítica. O discurso da “indiferenciação” esgrimido por Lula encontra eco no eleitorado em parte por conta das práticas e costumes que vicejaram também sob a era FHC.

O mesmo balcão de negócios no Congresso. A mesma partilha de ministérios, rateados sem cerimônia entre representantes de partidos adeptos da fisiologia. E escândalos em quantidade nada negligenciável: Sudam, Sudene, compra de votos da emenda da reeleição, privatizações trançadas “no limite da irresponsabilidade”... A comparação joga água no moinho que “absolve” Lula e o petismo de seus pecados.

 

Gustavo Franco e as importações
Luís Nassif
25/08/20006

No lançamento de seu último livro, ontem em São Paulo, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco, fez duas declarações no mínimo polêmicas –apesar do livro abordar temas não tem polêmicos.

1. Para combater a apreciação do real, o Brasil tem que aumentar as importações. Em 1994, Gustavo não apenas afirmou, como praticou. Com o real apreciado, abriu indiscriminadamente as importações. Arrebentou com a indústria brasileira e o real continuou apreciado.

2. Diz que, com a atual chuva de dólares, não há muito o que o Banco Central fazer para evitar a apreciação do real. Em recente polêmica com Marcos Garcia, da PUC-Rio, Gustavo diz exatamente o contrário: que acadêmicos costumam subestimar o poder de fogo do BC.

Gustavo é valente, inteligente. Sö que todo pensamento dele tem que passar por um viés ideológico fatal.

25 agosto 2006

 

Restou um caudilho
Clóvis Rossi
25/08/2006

Luiz Inácio Lula da Silva acaba de atingir o melhor índice de aprovação de um governante, na série histórica do Datafolha, batendo o recorde anterior, de Fernando Henrique Cardoso (52% para Lula contra os 47% que FHC chegou a obter uma vez). Aloizio Mercadante é o líder no Senado do governo que tem o recorde de aprovação. Logo, ele também deve estar roçando níveis pelo menos parecidos, certo? Errado, como todo mundo sabe. Mercadante tem apenas 18% das intenções de voto, na disputa pelo governo de São Paulo, separado de José Serra, o líder, por 30 pontos percentuais, mais do que a diferença que Lula obtém sobre Geraldo Alckmin.

No conjunto do país, o PT lidera apenas em Sergipe, no Piauí e no Acre, Estados que somam meros 3% do eleitorado e, ademais, são extremamente periféricos geográfica e politicamente.

Mas, em 2002, a identificação Lula/PT era indiscutível. Hoje, o PT minguou, Lula cresceu, sai o petismo, fica o "lulismo", o personalismo caudilhesco velho de séculos na América Latina.

 

O futuro
Jânio de Freitas
25/08/2006

O projeto da série Carochinha, apresentado solenemente pelo ministro Tarso Genro ao populoso e hipotético Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, planeja os índices econômicos para os três próximos mandatos presidenciais, mas nem com os métodos de Dona Baratinha ousa prometer crescimento para o Brasil de mais de 6% ao ano, e só a partir de 2008. Os países do grupo do Brasil, entre os "emergentes", há anos já crescem em torno de 9%, aí incluída a Argentina de Kirchner. E com juros que a imaginação lulista só prevê, por aqui, para 2010.

Neste novo volume da série Carochinha merecia figurar sentença inovadora de Alckmin, quer dizer, Geraldo, proferida como síntese do seu pensamento econômico em palestra agora para militares, no Clube de Aeronáutica. "O Brasil", receita ele, "precisa crescer para recuperar a capacidade de investimento". Foi derrubada a secular idéia de que primeiro se precisasse de investimento, para produzir a conseqüência do crescimento. Em alguma próxima palestra Geraldo, quer dizer, Alckmin, explicará como o crescimento se dará sem o investimento, que não será causa, mas conseqüência em seu governo, se eleito.

 

Plano para pôr o Brasil a serviço da Fiesp
J. Carlos de Assis
25/08/2006

O plano da Fiesp, entregue a Lula, repete a cantilena que vem sendo pregada dogmaticamente por Delfim Netto há tempos, e que contém uma dose cavalar de regressividade sob a capa progressista. O elemento simpático é a proposta de uma redução da taxa básica real de juros para 3%. Nisso estamos todos de acordo. Para se chegar a isso, porém, o caminho da Fiesp é o da preservação de um alto superávit primário para redução da dívida pública. A taxa básica não seria uma opção discricionária do Banco Central. Será o resultado da queda da dívida!

É difícil saber a quem a Fiesp quer enganar, se a Lula, se ao povo ou se a si mesma. A taxa básica de juros é uma decisão discricionária do Banco Central. Se fosse o resultado de forças de mercado, não era necessário existir banco central, pois praticamente sua única função atual nas economias capitalistas é fixar a taxa básica de juros. Claro, o BC pode levar em conta outros fatores, como, principalmente, a situação cambial para fixar a taxa básica de juros. Isso, porém, nada tem a ver com nível absoluto ou relativo da dívida pública.

Essa idéia de vincular a taxa básica de juros à dívida pública é um fetiche oriundo de uma teoria totalmente desmoralizada em seu próprio pais de origem, os Estados Unidos, e que aqui nossos formuladores insistem em levar a sério. Essa teoria diz que o sujeito que tem uma fortuna em dinheiro líquido não investe em títulos públicos se a dívida ultrapassar determinada relação com o PIB – a qual nunca é claramente especificada. Na Europa, essa relação foi fixada, pelo Tratado de Maastricht, em 60% do PIB. No nosso caso, como somos negros e mulatos, é menos.

Na verdade, nem há muito a descobrir. O instrumento para reduzir a relação dívida/PIB e promover o déficit nominal zero é o corte de gastos públicos não financeiros. Nos últimos dez anos, esses gastos têm oscilado não mais que um ponto percentual para cima e para baixo, em torno de 17% do PIB. A rigor, não há o que cortar, na medida em que os serviços públicos do País estão em total descalabro, e os salários dos servidores só foram revistos no governo Lula. Assim mesmo, a Fiesp insiste nessa banalidade, que não resiste a sequer uma vista superficial no orçamento.

Isso não é um plano para o Brasil. É um plano para a Avenida Paulista.

24 agosto 2006

 

Os reis da bufunfa
24/08/2006
Paulo Nogueira Batista Júnior

Por exemplo: os bancos sustentam que uma das grandes causas do elevado "spread" bancário (a diferença entre as taxas que os bancos cobram nos empréstimos e as que pagam a seus depositantes) é o volume de depósitos que eles têm de recolher ao Banco Central. Sugerem a redução desses depósitos compulsórios como forma de baixar os juros finais para as pessoas físicas e jurídicas.

Não há garantia de que os recursos liberados pela diminuição dos compulsórios se destinem a empréstimos adicionais. Uma parte considerável, até preponderante, pode alimentar a compra de títulos federais, remunerados às onerosas taxas praticadas no Brasil.

O resultado pode ser, por exemplo, um pequeno acréscimo do volume de crédito e uma queda também pequena dos juros para os tomadores. Por outro lado, aumentaria o custo médio da dívida pública, em razão da substituição de compulsórios não-remunerados ou relativamente baratos por títulos que pagam taxas elevadas. Em qualquer hipótese, os únicos beneficiários claros de uma diminuição dos compulsórios seriam os bancos, que trocariam ativos não remunerados ou mal remunerados por títulos governamentais com juros altos ou, alternativamente, por empréstimos a empresas e pessoas físicas a juros ainda maiores.

Sem a pretensão de ser exaustivo (o meu espaço está acabando), mencionaria as seguintes: a) utilização firme dos bancos públicos (BB,CEF, BNDES) para aumentar a oferta de crédito e a concorrência no mercado; b) reforma do Copom e do CMN para diminuir a influência do sistema bancário sobre a política monetária e a regulamentação financeira; c) redução da taxa básica de juro fixada pelo BC para níveis civilizados; d) implementação adequada do cadastro positivo de tomadores de crédito; e) revisão do papel do Cade na defesa da concorrência no mercado bancário.

 

UM BILHETE APENAS, A HELOISA HELENA:
César Maia
24/08/2006

Aquele seu -nem um nem outro- no debate da Band, pegou bem. Por que sua TV abandonou esta linha? Isso lhe daria pelo menos mais dois pontos e daria caminho para os que não sabem se votam ou anulam.

 

Fora da política não há salvação
Fábio Konder Comparato
24/08/2006

Neste período crescente náusea eleitoral, cometeríamos um erro funesto se virássemos as costas à política para nos dedicarmos unicamente aos nossos afazeres particulares. Esse absenteísmo é a pior forma de fazer política, pois representa o apoio incondicional ao statu quo oligárquico. Mas como vencer o desalento que nos invade?

O advento do capitalismo financeiro, fundado na usura ou em operações de pura especulação, acentuou de modo drástico essa tendência ao reduzir substancialmente as atividades industriais, não só no mundo desenvolvido mas também, precocemente, em grandes países subdesenvolvidos, como o nosso. As únicas exceções subsistentes (por quanto tempo?) estão na Ásia. Escusado dizer que o resultado imediato da desindustrialização é o desemprego em massa, cujos índices médios globais crescem sem cessar.

Só em nosso país, há, atualmente, 8 milhões de trabalhadores sem emprego. Exatamente por isso, hoje, o melhor recurso para ganhar eleições é a política assistencialista.

A política, no dizer de um grande sociólogo brasileiro, ou melhor, essa forma decadente de fazer política, digo eu, se tornou de fato irrelevante. Não esqueçamos que, durante o império, quando a escravidão antes aproximava do que afastava o partido conservador do partido liberal (daí o célebre dito: "Não há nada mais parecido com um saquarema do que um luzia no poder"), tivemos a mesma sensação de desimportância da política.

Não há nada mais semelhante à coligação PSDB-PFL no poder do que o PT no governo. Que fazer?

A função eminente dos novos partidos já não será, então, a luta para alcançar o poder, mas, sim, o trabalho de educar e organizar o povo para que ele se ponha de pé e passe a exercer diretamente as funções que ninguém tem o direito de assumir em seu nome: a de decidir o seu destino e o futuro do país.

De outro lado, urge desbloquear e alargar, na ordem jurídica, o uso dos instrumentos de democracia direta e participativa -o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular, os orçamentos participativos-, sem os quais não existe verdadeira soberania popular.

23 agosto 2006

 

  • "Você culparia Cristo pela traição de Judas?"

    Marcelo Crivella
    ( candidato a governador do Estado do Rio
    pelo PRB - Partido Republicano Brasileiro -
    ao defender que Lula não sabia do mensalão)

    Crivella faltou a 86% das votações no Senado em 2006

 

Petista com questão pertinente? Achei um
Reinaldo Azevedo
23/08/2006

Um eleitor do PT posta um comentário com uma questão pertinente. E é educado. Assim pode. Respeitando as regras da casa. Basicamente, diz o seguinte: se 52% acham o governo Lula bom ou ótimo, será que essa gente toda está equivocada? Ele sugere que a campanha de Alckmin não está errada, mas que é impossível mesmo ganhar. Tá. Respondo porque é pertinente. É claro que há razões econômicas — embora tenham prazo para acabar, mas pouco importa para o tema — que explicam o sucesso de Lula nas urnas. Só que esse não é um critério absoluto. É apenas uma das variáveis. Ou jamais haveria alternância de poder nas democracias à esteira de governos virtuosos — e Lula nem chega a ser exemplo de virtude, não é mesmo?

Aliás, meu bom petista, a armadilha econômica é justamente aquela que os que defendem o atual modelo macroeconômico criaram para Alckmin. Lembro-me de quando Maílson da Nóbrega saudou a derrota de Serra na disputa interna pela vaga do PSDB. Disse ele: as eleições estão decididas, pouco importa quem vença. Maílson é um liberal como eu sou? Claro que não. Ele está se lixando para os valores do liberalismo. Quer o que considera um bom ambiente de negócios. E isso Lula garante em sentido amplo, geral e irrestrito. O topo da pirâmide, topo mesmo, vai muito bem e não quer mudar. Os bancos estão com Lula. A base da pirâmide, em razão do assistencialismo, virou clientela. O petista tem razão numa coisa: é difícil vencer essa equação.

 

Petista com questão pertinente? Achei um
Reinaldo Azevedo
23/08/2006

Um eleitor do PT posta um comentário com uma questão pertinente. E é educado. Assim pode. Respeitando as regras da casa. Basicamente, diz o seguinte: se 52% acham o governo Lula bom ou ótimo, será que essa gente toda está equivocada? Ele sugere que a campanha de Alckmin não está errada, mas que é impossível mesmo ganhar. Tá. Respondo porque é pertinente. É claro que há razões econômicas — embora tenham prazo para acabar, mas pouco importa para o tema — que explicam o sucesso de Lula nas urnas. Só que esse não é um critério absoluto. É apenas uma das variáveis. Ou jamais haveria alternância de poder nas democracias à esteira de governos virtuosos — e Lula nem chega a ser exemplo de virtude, não é mesmo?

Aliás, meu bom petista, a armadilha econômica é justamente aquela que os que defendem o atual modelo macroeconômico criaram para Alckmin. Lembro-me de quando Maílson da Nóbrega saudou a derrota de Serra na disputa interna pela vaga do PSDB. Disse ele: as eleições estão decididas, pouco importa quem vença. Maílson é um liberal como eu sou? Claro que não. Ele está se lixando para os valores do liberalismo. Quer o que considera um bom ambiente de negócios. E isso Lula garante em sentido amplo, geral e irrestrito. O topo da pirâmide, topo mesmo, vai muito bem e não quer mudar. Os bancos estão com Lula. A base da pirâmide, em razão do assistencialismo, virou clientela. O petista tem razão numa coisa: é difícil vencer essa equação.

 

Um presidente convicto de um futuro melhor
J. Carlos de Assis
23/08/2006

Lula está absolutamente convencido de que seu segundo mandato estabelecerá um diferencial em relação a tudo que se viu na história pregressa brasileira.

Tenho sido um crítico sistemático da política econômica do governo - mesmo porque a política econômica do governo, em seu sentido mais abrangente, tem sido sistematicamente neoliberal -, mas é difícil não se deixar envolver pela convicção do Presidente de que estamos prontos para começar uma nova era. Ele quer isso. E, dadas as circunstâncias eleitorais, é ótimo que ele o queira.

A onda da opinião pública está indo na direção oposta ao que prega Geraldo Alckmin, que é uma espécie de regressão pura e simples ao neoliberalismo puro de Fernando Henrique. Isso parece que o povo não quer. Prefere repetir Lula.

Heloísa Helena é uma alternativa da emoção, não da razão. Em que sentido ela é importante? Ela é uma espécie de consciência critica anti-neoliberal extraída das costelas do PT. Funciona como aquele escravo que ia ao pé da carruagem do general vitorioso na marcha triunfal pelas ruas de Roma, repetindo para ele a mesma frase: Lembras-te de que és mortal! É preciso que alguém diga isso a Lula, quando estiver no ápice de sua glória. Não te esqueças do imperativo de uma mudança profunda na política econômica, para que todas as suas propostas para outras áreas se realizem!

O que anima em relação a Lula é que ele próprio anuncia uma arrancada desenvolvimentista.

O que importa é conquistar o poder para usá-lo na direção correta, que é a direção da retomada.

22 agosto 2006

 

A questão é Lula
Reinaldo Azevedo
22/08/2006

Tanto a lógica mais elementar como a história recente evidenciam que ou se desgasta a imagem de Lula ou é impossível ganhar — insisto: eu não quero apenas disputar o segundo turno. Pensem na eleição passada, de Marta Suplicy. Seu governo era bem visto por uma larga fatia dos paulistanos. Mas sua imagem pessoal se desgastou, por motivos que, listados aqui, desviariam o foco. E, claro, havia um adversário muito forte, que soube explorar as fraquezas da administração e apresentar propostas substantivas.

Ora, segundo o Ibope, o governo Lula é aprovado por 57% dos entrevistados, e 41% o consideram ótimo ou bom; para outros 37%, é regular. Só 22% o vêem como péssimo. A força da candidatura do PT chama-se Lula. Tanto os petistas sabem disso, que o partido desapareceu do programa eleitoral; o vermelho sumiu; a estrela se tornou verde-amarela; a imagem do Babalorixá é objeto de disputa judicial em Pernambuco: até o candidato do PFL ao governo do Estado quer usá-la no horário eleitoral. Ou esse prestígio pessoal é abalado, ou nada feito. E, quando falo em ser abalado, não estou a sugerir que se opte pela baixaria.

Nada a ver?
Wladimir Pomar
21/08;2006

Depois que a senadora Heloísa Helena declarou que programa estratégico nada tem ver com programa de propostas eleitorais, e adotou uma linha de campanha economicista, pergunto-me como ficam aqueles que romperam com o PT, por achar que esse partido rebaixou seu programa estratégico às ingerências de táticas eleitorais.

Tanto vitórias quanto derrotas táticas podem representar avanços estratégicos se favorecerem o acúmulo das forças populares e o desgaste da direita. Ou podem representar retrocessos estratégicos, se desgastarem as forças populares e favorecerem a acumulação de forças da direita. Tomemos o caso das táticas para conquistar o apoio estratégico das camadas pobres. Essa maioria da população brasileira tem servido, há muito, de massa de manobra, ou mesmo bucha de canhão, para as classes dominantes de cada época histórica.

Em 1989, com a tática de não ter medo de ser feliz, pela primeira vez na disputa presidencial, uma parte dessas camadas deixou de lado o preconceito que nutria a respeito de seus próprios integrantes, ainda por cima chamados de socialistas, e votou Lula-Presidente. Deslocou-se da hegemonia mantida sobre ela por aquelas classes. Em 1994 e 1998, mesmo essa parte voltou à antiga influência, elegendo FHC. Em 2002, já meio escaldada e em meio à divisão da burguesia, migrou novamente para a esperança petista.

Porém, o deslocamento mais consistente só veio a ocorrer durante o governo Lula, devido aos programas sociais executados pelo governo. Não fosse isso, não teria sobrado caco do governo e do PT, bombardeados quase um ano inteiro, pelos dois flancos, sob a acusação de corruptos e traidores. Esse deslocamento é um dos méritos do governo Lula, mesmo que se reconheça que ele não significou uma tomada de consciência daquelas camadas, nem a elevação de seu nível de organização e capacitação para participar ativamente da vida democrática e fazer valer seus interesses.

Só o fato de ter ocorrido tal deslocamento já representa uma importante vitória tática. Com ela, criam-se as condições mínimas para que esse grande setor social brasileiro tome consciência de seus interesses, se organize e participe da vida política, mudando a correlação de forças. O que certamente será perdido, se Lula for derrotado. Ainda mais, com a ajuda dos que pensam que tal derrota representará um avanço no caminho do socialismo. Tática e estratégia: nada a ver?

21 agosto 2006

 

Cartel, juros e "spreads" bancários
21/08/2006
Marcos Cintra

A ficha caiu! Finalmente, economistas, consultores, jornalistas e técnicos do governo se convenceram de que o setor bancário é um cartel.

Há três anos, a falta de competição de preços entre os bancos não era tida como fator determinante dos escorchantes juros cobrados dos tomadores de crédito no Brasil. O problema era atribuído quase que exclusivamente aos altos patamares da taxa Selic. Em 2 de julho de 2003 o jornal "O Estado de S.Paulo" publicou o artigo "It's the spread, stupid", em que afirmei que a Selic era uma faceta importante, mas o aspecto fundamental para explicar os altos juros no Brasil residia no "spread" bancário.

A intenção daquele artigo foi destacar a atuação oligopólica dos bancos no país como geradora do "spread" superior a dez vezes a média dos praticados em outras economias emergentes.

É inadmissível que o setor continue captando recursos a 15% ao ano e cobrando juros que na média chegam a 38% no desconto de duplicatas, 51% no "hot money", 32% no capital de giro, 62% no crédito pessoal e 145% no cheque especial. Aplicando os maiores "spreads" do planeta e cobrando tarifas exorbitantes que cobrem 130% de suas folhas de pagamentos, os bancos no Brasil registram, de acordo com o consultor financeiro Carlos Coradi, lucratividade média de 24,7%, um pouco menos que os 26,9% dos eficientes bancos suíços. Vale lembrar que os dois maiores bancos privados brasileiros tiveram no ano passado rentabilidade superior a 30%.

O poder dos bancos precisa ser enfrentado. Uma forma do governo fazê-lo é não permitir que a CEF e o Banco do Brasil sejam peças do cartel, tornando-os um referencial para a concorrência no setor. Ademais, há que extirpar a promiscuidade que reina entre o setor bancário e o Banco Central, além de rever a legislação antitruste e o papel do Cade na preservação da concorrência no segmento financeiro.


Revisitando a questão do "spread" bancário
Gustavo Loyola
21/08/2006

Não resta dúvida que o "spread" bancário médio no Brasil é elevado tanto em termos absolutos quanto comparativamente a outros países emergentes.

A pressa em apontar a ganância dos bancos brasileiros como uma das causas do elevado "spread" leva a equívocos, como comparar rentabilidade média

O que se deve evitar é que tais comparações deságüem em conclusões apressadas, tais como as que ignoram o papel negativo desempenhado pela existência de direcionamento obrigatório de crédito (financiamentos habitacionais e crédito rural, por exemplo) e as que superestimam o problema da "inexistência" de competição no mercado bancário brasileiro.

Aliás, a pressa em apontar a ganância dos bancos brasileiros como uma das causas do elevado "spread" leva a equívocos tais como a comparação nua e crua entre as rentabilidades médias sobre o patrimônio líquido obtidas por instituições bancárias de países, cujos bancos centrais praticam taxas de juros básicas distintas

No Brasil, por exemplo, os bancos auferiram uma rentabilidade de 4,67% ao ano sobre a taxa Selic, enquanto nos EUA os bancos ganharam em média 8,96% ao ano sobre a taxa dos "FED funds".

19 agosto 2006

 

CARA SENADORA HELOISA HELENA
César Maia
18/08/2006

Sabia que seu crescimento entre os evangélicos é significativo? Talvez por seu "quase não maquiar". Pelas pernas sempre cobertas. Por seu "quase terninho branco". Pelo seu jeito "obreira" ou "pastora" de ser. Lembro que, outro dia, você dizia que seu socialismo você aprendeu na Bíblia. Uma sugestão. Fale isso mais vezes e use personagens e referências como exemplos. Entre os evangélicos você está passando para segundo e pode ser mais rápido.

 

Os "spreads" bancários
Luís Nassif
19/08/2006

Medidas tomadas pelo Banco Central nos últimos anos para baixar os “spreads” bancários:

1. Sistema de Pagamentos Brasileiro.
2. A nova Lei de Falências.
3. Liberdade cambial praticamente absoluta.
4. Concentração do sistema bancário, para permitir ganho de escala.
5. Inclusão dos créditos do FCVS utilizados no PROER no cálculo das exigibilidades dos financiamentos ao Sistema Financeiro da Habitação.

E o tal do “spread” ainda não baixou.

 

A PARTE E O TODO: EU EM CAIXA ALTA
Reinaldo Azevedo
19/08/2006

Insisto: eu espero, torço mesmo, para que o quadro eleitoral nacional se inverta. Mas também quero dizer que acho isso improvável. Um grupo político — no caso, as oposições — não comete tantos e sucessivos erros impunemente. A realidade cobra a sua fatura.- Errou quando não percebeu que Lula deveria ter sido apeado do poder — e havia motivos para tanto;

- Errou quando blindou Palocci na suposição de que se manteria uma economia estável, com um Lula fraco, que seria derrubado por um sopro;

- Errou quando tinha um candidato favorito, José Serra, que passou a ser atacado por líderes do grupo, como o próprio Alckmin e Aécio Neves. Em dezembro, Serra ganhava de Lula de lavada. Alckmin chamava aqueles números de “recall”. Em mais de uma entrevista, insistiu na necessidade de ele permanecer na Prefeitura. Imaginem só...

- Errou quando não puniu os seus dois únicos membros colhidos no valerioduto — num crime, de fato, pé-de-chinelo na comparação com os 40 quadrilheiros. E daí?;

- Errou quando, mesmo estando Serra tecnicamente empatado com Lula, e Alckmin com a metade dos votos (o número que tem hoje), desprezou quem tinha o dobro para ficar com quem tinha a metade;

- Erra agora, quando se assiste à mesma campanha seja para o governo do Estado, seja para a Presidência: Serra vence no primeiro turno, mas Lula também.

18 agosto 2006

 

'É preciso repensar valores do capitalismo'
Valor Econômico
17/08/2006

O economista André Lara Resende está convencido de que é fundamental "repensar a matriz dos valores do moderno capitalismo de massa". "Acredito que este é o grande impasse de nosso tempo: a incompatibilidade entre o sistema mais eficiente na geração de riqueza e a valorização da vida pública e da cidadania, indispensáveis para dar sentido à riqueza material", disse Resende no discurso de agradecimento ao prêmio Economista do Ano, em cerimônia realizada na noite de terça-feira.

Hoje, porém, sua visão é outra: "Constato que a superação da inflação crônica não é condição de suficiência para a retomada do crescimento, e também já não tenho certeza de que o mero crescimento seja condição para a superação do subdesenvolvimento."

O que espanta, segundo ele, é que esse progresso material não foi acompanhado por uma "percepção de melhora na qualidade de vida" - pelo contrário, como indicariam a crise da segurança, a superpopulação dos grandes centros urbanos e o descrédito da política.

Para explicar esses problemas, que não são exclusivamente brasileiros - México e Argentina também vivem situação semelhante -, Resende passou a analisar o moderno capitalismo de massa e sua incompatibilidade com a vida pública e a cidadania. Segundo ele, "o moderno capitalismo de massa revelou-se imbatível como sistema de produção de riqueza. Sua superioridade foi de tal forma esmagadora que não parece haver, hoje, alternativa para a organização da economia", disse. O problema é que o sistema não é capaz de resolver "de forma automática a questão das desigualdades e da exclusão social", o que dependeria "essencialmente da vida pública, da política e da cidadania".

A questão é que a desvalorização da política tem "raízes profundas" na própria modernidade, devido a características como a valorização do trabalho e da vida privada: "Se não existe alternativa à altura do capitalismo para a criação de riqueza, se este capitalismo é incapaz de sanar a questão da desigualdade, que depende essencialmente da valorização da dívida pública, e a desvalorização da política tem suas raízes justamente no desenvolvimento da mentalidade capitalista moderna, estamos diante de um desafio monumental." Nesse cenário, superar essa incompatibilidade é decisivo para superar o subdesenvolvimento e transformar os países em "sociedades mais democráticas e equânimes." O imperativo, então, "é repensar a matriz dos valores do moderno capitalismo de massa".

 

O Brasil de André – 4
Luís Nassif
18/08/2006

O ponto focal desse desastre foi a decisão tomada, na partida do Real, de flutuar o câmbio para baixo. Nas discussões preliminares, todas as conseqüências negativas tinham sido identificadas pelos economistas do Real. Todas, do risco do excesso de dólares apreciando o real, do custo fiscal das reservas cambiais excessivas, da necessidade de conter o capital gafanhoto.

Nada foi feito para prevenir os desastres anunciados. André participou diretamente da decisão de apreciar o câmbio, que matou a grande oportunidade de crescimento do país no século. E foi beneficiário direto desse erro. No final de 1994 seu banco estava vendido em quase US$ 1 bilhão no mercado futuro de câmbio. E ele continuava participando diretamente das formulações da equipe econômica.

Nos anos seguintes, tornou-se personagem típico do romance "O Encilhamento", do Visconde de Taunay. Comprou carros de corrida, viajou para Londres transportando cavalos em avião.

Agora, vem com essas considerações de cunho filosófico-político, como se essa deterioração do país nada tivesse a ver com as decisões econômicas?

Deveria se contentar em continuar apenas milionário.

 

Introdução à burrice monetária brasileira
17/08/2006
J. Carlos de Assis

Quando um pais faz superávit comercial, significa que vendeu mais do que comprou em bens e serviços. Esse saldo em dólar fica com o Banco Central. O Banco Central se obriga a entregar o valor correspondente em reais aos exportadores, que os usam para pagar salários e distribuir lucros. Isso teria um efeito expansivo sobre a economia, porque o fluxo de moeda aumentaria relativamente à produção interna, tendo em vista a parte física desta que foi exportada. Contudo, o Banco Central, com medo do efeito monetário expansivo sobre a inflação, enxuga o saldo externo convertido em reais através de uma política contracionista – isto é, lançando novos títulos no mercado, a taxas atraentes.

De fato, para enxugar a moeda, ele tem que manter elevada a taxa de juros. Taxas de juros altas atraem inversões externas especulativas, e quase só elas, pois o mercado interno está retraído pelo desemprego e baixa renda do trabalho. Como são inversões especulativas, elas não vêm mesmo aumentar nossa produção, mas para ficar rolando no over, ganhando juros sobre juros, sem qualquer contrapartida de investimento produtivo. Assim, o efeito monetário final do aumento da exportação é o desestímulo à produção pelo enxugamento do saldo monetário oriundo do superávit comercial.

O que fizeram, no passado, paises estruturalmente superavitários no balanço de pagamentos, como Japão e Alemanha, e, hoje, os gigantes emergentes, China e Índia? Separaram ou separam, pelo controle de capitais, o mercado monetário interno do externo. Eles não esterilizaram, ou não esterilizam o saldo externo. Usaram-no e usam-no para expandir a economia real. O caso da China é pedagógico. Ela tem reservas hoje superiores ao seu produto interno bruto.

17 agosto 2006

 

  • “Eu sei que o Congresso é podre quando o presidente é podre."

    Heloísa Helena
    16/08/2006
    (discurso em São Luís)

 

  • "Nosso desafio é esse: é ter palavras que magnetizem, eletrizem, e que o povo sinta a palavra verdadeira e tenha, portanto, reciprocidade e dê o voto. O voto não vai ser dado por cartazes, propaganda apenas. Tem que confiar."

  • "Hoje há nojo no Brasil. As pessoas têm de ter asco da podridão do país."

    FHC
    09/08/2006

    (ao admitir falhas na campanha do PSDB)

 

  • “Música para nossos ouvidos"

    Márcio Cypriano
    16/08/2006
    (Presidente da Febraban,
    comentando reunião de banqueiros com Alckmin)

 

  • “[o PT] nunca foi contra lucro de banco."

    Paulo Bernardo
    16/08/2006

 

O poder dos bancos no Brasil
Paulo Nogueira Batista Júnior
17/08/2006

Ontem, recebi notícias das barbaridades que estão acontecendo nos bastidores de um dos grandes bancos brasileiros. O meu sangue ferveu. Resolvi, então, fazer no artigo de hoje algumas considerações sobre essas instituições. Nas economias modernas, os bancos sempre são poderosos. No Brasil, entretanto, o poder dos bancos é extraordinário e já constitui há muito tempo uma agressão ao interesse público.

Os balanços dos principais bancos privados e públicos, divulgados nos últimos dias, mostraram lucros muito volumosos, que chegam a ser estarrecedores. Enquanto a maior parte da economia brasileira patina na mediocridade, enquanto a maior parte dos brasileiros vegeta na pobreza ou na miséria, os grandes conglomerados bancários expõem resultados exuberantes. Exuberantes, não. Nas circunstâncias do país, não é exagero usar uma palavra mais forte: indecentes.

O poder econômico dos bancos é sustentado por ampla rede de influência política e ideológica. O comando do Banco Central, por exemplo, mantém há muito tempo uma relação promíscua com o sistema financeiro. O famigerado Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) é uma espécie de comitê executivo da Febraban (Federação dos Bancos Brasileiros). Entra governo, sai governo e o quadro não muda: a diretoria do Banco Central é sempre dominada por pessoas que vêm do sistema financeiro ou que para lá desejam ir.

 

A depravação financeira por trás do lucro bancário
J. Carlos de Assis
16/08/2006

No momento em que a taxa de desemprego volta a subir e a taxa de subemprego continua em níveis recordes, é patético tomar conhecimento de que o lucro médio dos bancos brasileiros ficou em 24,7% no primeiro semestre. Em quatro anos, nossos bancos dobram seu capital. É um negócio não produtivo melhor do que petróleo. Contudo, não haveria muito o que reclamar dentro de estritas regras capitalistas, não fosse o lucro bancário brasileiro diretamente proporcional à contração imposta na economia pela política monetária e fiscal.

O lucro bancário brasileiro tem duas fontes principais: taxas de juros básicos sobre a dívida pública, seja esta detida diretamente ou intermediada por eles, e a taxa de juros de empréstimos aos setores privado e público. Ambas as taxas são escandalosos.

Do ponto de vista do funcionamento da economia, porém, o grande inibidor do desenvolvimento brasileiro é a política monetária expressa em taxas básicas de juros extremamente elevadas. A professora Maria da Conceição Tavares e eu apelidamos a base do sistema monetário brasileiro de “moeda financeira” ou de “moeda remunerada”. Não tem paralelo no mundo. A dívida pública é virtualmente líquida, mas rende juros. Isso é uma contradição. O que deve render juros é poupança financeira. Depósito à vista não poderia render juros, a não ser juros simbólicos.
No Brasil, é o próprio Estado que garante liquidez diária aos títulos públicos, independentemente do prazo nominal do papel. Isso é um contra-senso. O juro é o prêmio cobrado para deixar indisponível o capital por determinado tempo. Esse tempo é contado da data do empréstimo para o futuro. Com a “moeda financeira”, ocorre o oposto. Conta-se o prazo para trás. O dinheiro está sempre disponível para seu dono. E quem toma emprestado, que é o Estado, se obriga a devolvê-lo em qualquer tempo, pagando a taxa de juros pelo prazo decorrido.

16 agosto 2006

 

  • “Não estou convencido da vitória de Lula. Penso ser falsa a expectativa gerada sobre a invencibilidade do candidato petista. Se Lula vencer o governo será um desastre. O PT vai encolher, o que restar dele se afastará de Lula, que ficará refém do pior do PMDB e do que sobrar da sua base aliada. Os compromissos não serão programáticos, mas de interesses menores, pagos em espécie.”

    Roberto Jefferson
    15/08/2006

 


Ela vem aí
Roberto Jefferson
15/08/2006

E é da indignação do povo esquecido que vem brotando com muita força, nos últimos dias, a candidatura de Heloísa Helena como resposta à manipulação produzida pela mídia e o grande capital.

Quem anda nas ruas como eu, fazendo campanha como eu, conversando com o povo como eu, percebe que Heloísa Helena vem aí. De nada adiantará a mídia de aluguel, alugada aos rentistas, tentar chamá-la de "Collor de saias", coisa que na eleição passada foi feita com Ciro Gomes, rotulando-o de "Collor cearense", ou de "nordestino raivoso".

Heloísa Helena vem aí. Sem um partido forte, mas no braço do povo. O voto nela não é ideológico, não é socialista nem capitalista. É o voto de protesto. É o voto da ética. É o voto de quem não aceita a traição feita pelo PT trocando o verbo pela verba. Heloísa foi expulsa de lá por orquestração do Planalto feita por Lula e José Dirceu, quando não aceitou trair seu verbo empenhado em favor de aposentados e pensionistas, em favor das verbas do capital.

15 agosto 2006

 

  • "O presidente nunca ouve nada, não vê nada, provavelmente não sabia que teria debate"

    José Maria Eymael
    (Candidato do PSDC,sobre a ausência de Lula no debate da Rede Bandeirantes)

14 agosto 2006

 

"Estrelas" petistas fogem de holofotes
Folha de São Paulo
14/08/2006

Antes considerados vitrines do Partido dos Trabalhadores e figuras constantes na mídia, alguns dos principais candidatos petistas hoje usam a estratégia da vitimização, fogem dos holofotes da imprensa e são escanteados pelo próprio partido.Fazem parte dessa lista o ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), homem forte do governo Lula durante quase 40 meses, o ex-presidente nacional do partido José Genoino, o ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha e os deputados José Mentor e Professor Luizinho. Todos são candidatos a deputado federal.

Palocci, que chegou a ser cogitado como sucessor de Luiz Inácio Lula da Silva, participou até agora apenas de um evento político: um jantar em Ribeirão Preto do qual a imprensa foi proibida de participar.


Armadilha do câmbio
Luiz Carlos Bresser-Pereira
14/08/2006

Se a taxa de câmbio de um país se mantiver apreciada, sua economia em pouco tempo experimentará investimentos voltados para a importação, déficit em conta corrente e, um pouco mais adiante, crise de balanço de pagamentos; se essa taxa se estabilizar em um nível relativamente depreciado ou competitivo, será o fator decisivo do desenvolvimento econômico. Não são apenas os países asiáticos dinâmicos de hoje que nos ensinam isso; no pós-guerra, a Alemanha, a Itália e o Japão também alcançaram altas taxas de crescimento porque lograram manter sua taxa de câmbio relativamente depreciada.


No Brasil, porém, o que vemos é uma forte tendência de a taxa de câmbio se apreciar. Embora aqui essa tendência seja mais acentuada, ela é comum a todos os países em desenvolvimento que aceitam a "estratégia" de crescimento com poupança externa.

O que fazer diante da apreciação do real? Nada, como sugere a ortodoxia convencional, "porque o mercado afinal resolverá o problema"?

Nada, "porque a taxa de câmbio real não poderia ser administrada no longo prazo", não obstante a experiência internacional demonstre a falsidade desse pressuposto fundamentalista de mercado? Ou nada precisaria ser feito porque a política de juros que essa ortodoxia vem impondo ao Brasil há tantos anos, além de facilitar o populismo cambial, é uma armadilha que impede que o governo aja sobre a taxa de câmbio?

A última é a verdadeira resposta. A alta taxa de juros impede a administração da taxa de câmbio.
Para administrá-la, os governos dispõem de dois instrumentos: a compra de reservas e sua esterilização, e, quando esse mecanismo não é suficiente, o controle da entrada de capitais.

O Banco Central já comprou cerca de US$ 70 bilhões, mas essas compras são insuficientes: o governo precisaria comprar mais. Entretanto, diferentemente do que ocorre com os países asiáticos dinâmicos, o governo não pode comprar mais porque, se o fizer, acabará de quebrar o Estado brasileiro. Um país asiático paga 1% ou 2% de juros reais para financiar a compra de reservas -o mesmo preço que recebe ao aplicar suas reservas no exterior-, enquanto o Estado brasileiro paga 12%.

Fica, dessa forma, clara a armadilha do juro alto e do câmbio baixo que hoje assola a economia brasileira, como, no passado, a alta inflação o fazia. A diferença está em que a alta inflação era um mal visível para todos, enquanto juro alto e câmbio baixo são males mais discretos. A alta inflação, entretanto, só terminou quando o governo, apoiado na sociedade, adotou uma estratégia original e firme para debelá-la; agora, a mesma autonomia e a mesma determinação então demonstradas são necessárias.


 

  • ”Se faço a economia crescer 6% ou 8% ao ano e direciono os gastos do governo para os mais pobres, essa é a forma correta de acoplar crescimento econômico com desenvolvimento social. Mas não é isso o que está acontecendo. Se olharmos a melhoria de renda no Brasil hoje, 70% dela é devido ao câmbio, via o canal dos alimentos, que pesam 70%, 80% no consumo dos mais pobres. Em outras palavras: com o mesmo salário nominal e com o salário mínimo crescendo em termos reais, você teve um poder de compra 60% maior nos alimentos. É isso que mudou na renda. Não é o Bolsa-Família. É o Bolsa-Família com o câmbio.“

    Luiz Carlos Mendonça de Barros

    14/08/2006

13 agosto 2006

 

  • " Não tem diferença do ponto de vista do modelo econômico.
    Eu acho que a eleição do Lula ou do Alckmin é igual.”

  • “É claro que os juros podem e devem baixar.
    Agora, como? Isso é problema do governo, não meu.”

    Olavo Setúbal
    13/08/2006

 

Reação da elite ao governo é um "paradoxo"
Folha de São Paulo
13/08/2006

Principal representante do setor empresarial no governo petista, o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) classifica como um "paradoxo" a reação da elite brasileira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em sua opinião, o setor produtivo está faturando como "nunca", gostaria que as "coisas fossem iguais" no próximo ano, mas com um "comando diferente" do atual. Furlan atribui parte dessa contradição à "avalanche de notícia ruim, corrupção disso, daquilo".

47% do eleitorado diz ter posição política de direita
Folha de São Paulo
13/08/2006

Pesquisa Datafolha revela que 47% do eleitorado brasileiro se define com sendo de "direita". Outros 23% de "centro" e apenas 30% de "esquerda".Apesar de menos da metade se definir como de "direita", é esmagadora a maioria que adota posições geralmente associadas ao conservadorismo, como a condenação ao aborto, às drogas e a defesa de medidas mais duras de combate ao crime.A pesquisa mostra que são contra a descriminalização da maconha 79%. Do aborto, 63%. Outros 84% defendem a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos e 51% querem a instituição da pena de morte.

Os percentuais gerais acima não diferem muito mesmo isoladamente em cada um dos grupos de eleitores ("direita", "centro" e "esquerda"). Exemplo: entre os que se dizem de "esquerda", 87% (mais do que a média) são favoráveis à redução da maioridade penal.


Os bilhões do reino
Jânio de Freitas
13/08/2006
A reincidência da roubalheira com gastos públicos propostos ao Orçamento por parlamentares (as chamadas emendas), como foi a dos "anões" flagrados nos anos 90, não se limita às ambulâncias dos sanguessugas. Foi só mexer um pouco nas emendas desse esquema e logo apareceu outro tipo de golpe contra verbas orçamentárias: o deputado Fernando Gabeira -a cuja persistência por uma CPI já se deve a indiciação de 72 parlamentares, e haverá mais- está denunciando, agora, o uso de emendas da corrupção a pretexto da compra de computadores e veículos, para o programa de "inclusão digital". É uma descoberta a mais, porém ainda distante do que se passa no Orçamento.Há mais de 15 anos, desde iniciado o governo Collor, não se lançam projetos de grandes obras públicas, o que levou as empreiteiras maiores e patrocinadoras de fraudes nas concorrências, e portanto de corrupção, a se voltarem para atividades como mineração, petroquímica, exportação, até coleta de lixo. A aprovação das verbas orçamentárias para grandes obras levava à distribuição de suborno alto a inúmeros deputados e senadores. Houve os que chegassem a ter a campanha eleitoral bancada. Com o fim dos grandes projetos, a alternativa da corrupção orçamentária foi multiplicar o uso de verbas para o assistencialismo, caso das ambulâncias, e as obras de menor porte. Alvo mais fácil e mais numeroso: as prefeituras, mais de cinco mil.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?